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Clã do Golfo ganha dezenas de milhões de dólares por travessia de migrantes no Darién
O Clã do Golfo, principal cartel de narcotráfico na Colômbia, arrecadou dezenas de milhões de dólares este ano com o controle da rota migratória no Estreito de Darién, afirma a Human Rights Watch (HRW) em um relatório publicado nesta quinta-feira (9).
"Ao longo do último ano, mais de meio milhão de pessoas cruzaram o Estreito de Darién em sua jornada para o norte, geralmente em direção aos Estados Unidos", relata a ONG, que visitou essa selva pantanosa na fronteira entre Colômbia e Panamá em quatro ocasiões.
Do lado colombiano do Darién, o Clã do Golfo "regula as rotas que os migrantes e solicitantes de asilo podem utilizar, decide quem pode ajudá-los no caminho, extorque aqueles que se beneficiam do fluxo migratório e estabelece normas de conduta", indica.
De acordo com dados obtidos pela HRW, o Ministério da Defesa da Colômbia estima que o Clã cobra, em média, 125 dólares (617 reais, na cotação atual) por pessoa que atravessa o Darién, de modo que "pode ter obtido um total de 57 milhões de dólares (281 milhões de reais) entre janeiro e outubro de 2023".
Em um momento em que o preço da cocaína está em queda, o cartel usa os fluxos migratórios para diversificar suas finanças, segundo especialistas consultados pela AFP. Às vezes, combina as duas atividades ilícitas.
"Envia lanchas com cocaína em paralelo às lanchas com migrantes e, quando a Marinha se aproxima para interceptá-las, jogam os migrantes ao mar para poder avançar" com as embarcações com a droga, explicou Juan Pappier, subdiretor para as Américas da HRW, em coletiva de imprensa em Washington.
Aos migrantes que não têm dinheiro para pagar a travessia, "pedem que levem cocaína ou outros produtos ilícitos", acrescenta Pappier, cuja organização realizou 300 entrevistas para "documentar as causas e respostas a esta crise".
A ONG diz ter obtido "evidências de que as restrições ao movimento de países sul-americanos até México e América Central, frequentemente promovidas pelos Estados Unidos, contribuíram para aumentar o número de pessoas que cruzam o Estreito de Darién".
No lado panamenho, os migrantes também estão expostos a criminosos que "rotineiramente cometem roubos e abusos sexuais".
A organização humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF) afirma ter atendido 950 pessoas, a maioria mulheres, que sofreram violência sexual ao cruzar o Darién desde abril de 2021.
Entre os migrantes que se aventuram nesta rota perigosa, há "quase 20%” de menores de idade, aponta Pappier.
Para remediar esse drama, é necessário um "status de proteção regional para migrantes, pelo menos para haitianos e venezuelanos, que permitiria regularizar na região" pessoas que estariam dispostas a ficar, declarou Juanita Goebertus, diretora para as Américas da HRW.
Para isso, acrescenta, a "política dos Estados Unidos não pode se concentrar em impedir os migrantes ao longo do caminho", mas sim em "investir na regularização e integração socioeconômica" na América Latina.
I.Meyer--BTB