Berliner Tageblatt - Al Jazeera denuncia decisão da Autoridade Palestina de suspender suas operações

Al Jazeera denuncia decisão da Autoridade Palestina de suspender suas operações
Al Jazeera denuncia decisão da Autoridade Palestina de suspender suas operações / foto: © AFP/Arquivos

Al Jazeera denuncia decisão da Autoridade Palestina de suspender suas operações

A emissora catari Al Jazeera denunciou, nesta quinta-feira (2), uma decisão da Autoridade Palestina de suspender suas transmissões nos territórios que administra parcialmente, acusando-a de tentar "ocultar a realidade" na Cisjordânia ocupada.

Tamanho do texto:

A Autoridade Palestina acusou na quarta-feira a Al Jazeera de divulgar conteúdos que incentivam a "desinformação" e a "sedição", segundo indicaram os meios de comunicação oficiais.

A agência de notícias oficial Wafa afirmou que a decisão de suspender as transmissões também implica "a suspensão temporária do trabalho de todos os jornalistas, funcionários, equipes e canais afiliados" até que a Al Jazeera "regularize sua situação legal".

Um funcionário da emissora catari contatado pela AFP confirmou que o escritório do canal em Ramallah recebeu uma ordem de suspensão na quarta-feira.

"Essa decisão reflete a insistência da Al Jazeera em divulgar conteúdos e reportagens caracterizadas pela desinformação, incitação, sedição e interferência nos assuntos internos palestinos", destacou a agência Wafa.

A emissora catari condenou a decisão em um comunicado no qual afirmou que esta "se alinha às práticas da ocupação israelense" contra a imprensa.

O canal acusou a Autoridade Palestina, liderada por Mahmud Abbas, de "tentar dissuadir a Al Jazeera de cobrir a escalada de eventos nos Territórios Palestinos ocupados", incluindo em Jenin e no campo de refugiados próximo.

Também destacou que a decisão foi tomada após "uma campanha de intimidação" contra seus jornalistas e representa "uma tentativa de ocultar a realidade no terreno nos territórios ocupados".

A Autoridade Palestina, presidida por Mahmud Abbas, administra parcialmente a Cisjordânia, um território ocupado por Israel desde 1967.

As tensões entre a emissora e o movimento Fatah aumentaram nas últimas semanas devido à cobertura dos confrontos mortais em Jenin entre forças de segurança palestinas e combatentes de grupos armados como Hamas e Jihad Islâmica.

Esses grupos se consideram mais eficazes na luta contra Israel do que a Autoridade Palestina.

- "Ações arbitrárias" -

O grupo islamista palestino Hamas, grande rival do Fatah de Abbas e que governa a Faixa de Gaza, condenou a decisão de suspender a emissora.

"Essa decisão está alinhada com uma série de ações arbitrárias recentes da Autoridade para limitar os direitos e liberdades públicas e reforçar seu controle sobre o povo palestino", declarou o Hamas em um comunicado.

"Conclamamos a Autoridade Palestina a reverter imediatamente esta decisão (...) É crucial garantir a continuidade da cobertura midiática que expõe a ocupação e apoia a resistência do nosso povo", acrescentou.

A Jihad Islâmica, aliada do Hamas na Faixa de Gaza, também condenou a decisão "em um momento em que nosso povo e nossa causa precisam desesperadamente transmitir ao mundo seu sofrimento".

- "Presença de todas as vozes" -

Na semana passada, a Al Jazeera já havia denunciado ser alvo de uma "campanha" do Fatah por conta da "cobertura dos confrontos entre as forças de segurança palestinas e os combatentes da resistência em Jenin", os quais resultaram em dezenas de mortos.

"A Al Jazeera garantiu a presença de todas as vozes, incluindo as dos combatentes da resistência e do porta-voz das forças de segurança palestinas", declarou o canal.

Amar Dweik, membro da Comissão Palestina Independente de Direitos Humanos, considerou que a decisão envia "uma mensagem negativa à opinião pública e aos jornalistas sobre a liberdade de imprensa".

A associação de imprensa estrangeira em Jerusalém expressou sua "grave preocupação" com a medida, que, em sua opinião, "levanta sérias dúvidas sobre a liberdade de imprensa e os valores democráticos na região".

 

A Al Jazeera já está proibida de operar em Israel devido a uma longa disputa com o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, e os desentendimentos se agravaram durante a atual guerra em Gaza.

K.Thomson--BTB