Berliner Tageblatt - Especialistas em desinformação criticam Meta por encerrar checagem de fatos nos EUA

Especialistas em desinformação criticam Meta por encerrar checagem de fatos nos EUA
Especialistas em desinformação criticam Meta por encerrar checagem de fatos nos EUA / foto: © AFP

Especialistas em desinformação criticam Meta por encerrar checagem de fatos nos EUA

O surpreendente anúncio da gigante da tecnologia Meta de que encerrará seu programa de checagem de fatos nos Estados Unidos provocou duras críticas, nesta terça-feira (7), por parte de pesquisadores da desinformação, que alertaram para o risco de proliferação de narrativas falsas.

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O diretor-executivo da Meta, Mark Zuckerberg, anunciou que a empresa iria se desfazer de seus verificadores de fatos externos nos Estados Unidos, uma mudança radical que analistas veem como uma tentativa de satisfazer o presidente eleito Donald Trump.

"Este é um grande retrocesso para a moderação de conteúdo em um momento em que a desinformação e o conteúdo nocivo estão evoluindo mais rápido do que nunca", declarou Ross Burley, cofundador do Centro para Resiliência da Informação, uma organização sem fins lucrativos.

O fact-checking e a pesquisa sobre desinformação têm sido temas delicados em um clima político hiperpolarizado nos Estados Unidos, com defensores conservadores afirmando que há restrição à liberdade de expressão e censura a conteúdos de direita.

O Partido Republicano de Trump e seu aliado bilionário Elon Musk - proprietário do X, o antigo Twitter - expressaram queixas semelhantes.

"Embora os esforços para proteger a liberdade de expressão sejam vitais, eliminar a checagem de fatos sem uma alternativa confiável corre o risco de abrir as comportas para narrativas mais prejudiciais", disse Burley. "Essa medida parece mais uma estratégia de apaziguamento político do que uma política inteligente."

Como alternativa, Zuckerberg afirmou que o Facebook e o Instagram poderiam usar "Notas da Comunidade, semelhante ao que o X faz" nos Estados Unidos.

As Notas da Comunidade são uma ferramenta colaborativa de moderação no X que permite aos usuários adicionar contexto às publicações, mas os pesquisadores questionam repetidamente sua eficácia no combate às informações falsas.

"Você não confiaria em qualquer um para consertar o vazamento do seu banheiro, mas a Meta agora parece confiar em qualquer um para impedir que a desinformação se espalhe em suas plataformas", argumentou Michael Wagner, da Escola de Jornalismo e Comunicação de Massa da Universidade de Wisconsin-Madison, à AFP.

"Pedir às pessoas, de forma voluntária, que monitorem afirmações falsas nas plataformas bilionárias de mídia social da Meta é uma abdicação da responsabilidade social."

- "Um decisão política" -

A nova abordagem da Meta ignora pesquisas que mostram que "os usuários das Notas da Comunidade estão fortemente motivados por razões partidárias e tendem a atacar mais seus oponentes políticos", apontou Alexios Mantzarlis, diretor da Iniciativa de Segurança, Confiança e Proteção da Cornell Tech.

A medida representa um revés financeiro para seus jornalistas de fact-checking externos baseados nos Estados Unidos.

O programa da Meta e os subsídios externos têm sido "fontes de receita predominantes" para os verificadores de fatos em todo o mundo, de acordo com uma pesquisa de 2023 da Rede Internacional de Checagem de Fatos (IFCN, na sigla em inglês) com 137 organizações em dezenas de países.

A decisão também "prejudicará os usuários das redes sociais que buscam informações precisas e confiáveis para tomar decisões sobre sua vida cotidiana e interações", disse a diretora da IFCN, Angie Holan.

"É lamentável que essa decisão seja tomada em resposta à pressão política externa de um novo governo e seus apoiadores", acrescentou.

Aaron Sharockman, diretor-executivo da organização americana de checagem PolitiFact, discorda da ideia de que a verificação de fatos sirva para suprimir a liberdade de expressão.

O papel dos fact-checkers americanos, alegou, era fornecer "discurso e contexto adicionais às publicações que os jornalistas consideravam conter informações errôneas" e era responsabilidade da Meta decidir quais sanções os usuários enfrentariam.

"O bom da liberdade de expressão é que as pessoas podem discordar de qualquer artigo jornalístico que publicarmos", disse Sharockman. "Se a Meta está incomodada por ter criado uma ferramenta para censurar, deveria se olhar no espelho."

O PolitiFact é um dos primeiros parceiros que trabalharam com o Facebook para lançar a checagem digital de fatos nos Estados Unidos em 2016.

A AFP também trabalha atualmente em 26 idiomas com o programa de verificação de conteúdo do Facebook, em que a empresa paga para usar checagens de cerca de 80 organizações a nível global em sua plataforma, no WhatsApp e no Instagram.

Nesse programa, o conteúdo classificado como "falso" tem sua visibilidade reduzida e, se alguém tenta compartilhar essa publicação, é apresentado um artigo explicando por que ela é enganosa.

"O programa não era de forma alguma perfeito, e os fact-checkers sem dúvida erraram em algum percentual de suas avaliações", disse Mantzarlis. "Mas devemos deixar claro que a promessa de Zuckerberg de se livrar dos verificadores de fatos foi uma decisão política, não uma decisão de política pública."

C.Kovalenko--BTB