Berliner Tageblatt - Camponeses bloqueiam vias na Bolívia para protestar contra provável prisão de Evo Morales

Camponeses bloqueiam vias na Bolívia para protestar contra provável prisão de Evo Morales
Camponeses bloqueiam vias na Bolívia para protestar contra provável prisão de Evo Morales / foto: © Kawsachun Coca/AFP

Camponeses bloqueiam vias na Bolívia para protestar contra provável prisão de Evo Morales

Cerca de 200 camponeses, liderados por indígenas, bloquearam nesta segunda-feira (14) duas importantes vias da Bolívia, dando início a um protesto por tempo indeterminado, diante da provável prisão de seu líder, o ex-presidente Evo Morales, investigado pelo suposto abuso de uma menor durante o mandato.

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"Nesta tarde, amanhã, até os próximos dias, todo o país vai estar bloqueado", anunciou Ponciano Santos, secretário da Confederação Sindical Única de Trabalhadores Camponeses da Bolívia, em declaração à imprensa.

O protesto se concentra nas rotas que conectam o departamento de Cochabamba — onde Morales passa a maior parte do tempo — com as cidades de Sucre e Santa Cruz.

Os manifestantes fecharam o acesso com pedras e terra. Em Parotani, um dos pontos da via que leva a La Paz, houve confrontos com a polícia, que usou gás lacrimogêneo, segundo imagens divulgadas pelos organizadores da manifestação.

À frente dos bloqueios está o Pacto de Unidade, uma aliança de organizações ligadas ao ex-mandatário de 64 anos, movimento que se mobilizou "para proteger a liberdade, integridade e [evitar] o sequestro" de Morales, conforme anunciado em manifesto.

Morales, o primeiro indígena a governar a Bolívia, entre 2006 e 2019, está sendo investigado pelos crimes de "estupro, tráfico e exploração de pessoas".

O ex-presidente não compareceu na quinta-feira a uma convocação do Ministério Público (MP) do departamento de Tarija para prestar depoimento, e sua ausência pode lhe render uma ordem de prisão.

Transformado no maior opositor do governo de seu ex-ministro Luis Arce, Morales classifica o caso como "mais uma mentira" que já foi investigada e arquivada pela Justiça em 2020, sem que, segundo ele próprio, nada tenha sido encontrado.

- 'Governo traidor' -

O suposto abuso remonta ao período em que o líder cocaleiro era presidente, em 2015. Morales se envolveu com uma menor de 15 anos, com quem teve uma filha em 2016, segundo a denúncia que está sendo investigada pelo MP.

Os fatos teriam ocorrido em Tarija, um departamento ao sul da Bolívia.

De acordo com o processo, os pais da vítima — também investigados — a inscreveram na "guarda juvenil" de Morales "com a única finalidade de escalar politicamente e obter benefícios [...] em troca de sua filha menor".

A defesa do ex-presidente alega que o caso já foi revisado e arquivado em 2020.

Em seu manifesto, os seguidores de Morales atacaram Arce, outrora aliado do ex-mandatário e que agora mantém uma disputa pela candidatura do partido governista para as eleições presidenciais de 2025.

"O governo traidor [...] não respondeu o nosso pedido, nem teve a vontade de convocar para o diálogo sobre o abastecimento de combustível, a escassez de dólares, o aumento do custo de vida, o grave endividamento interno e externo", entre outras questões que afetam a economia, afirmou o Pacto de Unidade.

Diante do início dos bloqueios, a ministra da presidência, María Nela Prada, convocou Morales para um diálogo com Arce para tratar da crise econômica, apesar de o líder indígena ter rejeitado várias vezes o convite.

Santos, por sua vez, afirma que a convocação para o diálogo não deveria ter sido feita ao ex-mandatário, mas ao Pacto de Unidade, que decidiu sair às estradas.

"Se você quer diálogo, que seja no ponto de bloqueio, onde você quiser", disse o porta-voz em sua declaração à imprensa na cidade de Santa Cruz.

- Sob reserva -

Nesta segunda-feira, a promotora responsável pela investigação, Sandra Gutiérrez, não quis responder aos jornalistas se pedirá a prisão de Morales.

"Por estratégia investigativa, vamos evitar dar maiores detalhes sobre o caso", comentou.

O pai da suposta vítima foi preso na sexta-feira por não comparecer, assim como Evo Morales, para depor ao MP.

O homem teve decretada prisão preventiva de quatro meses, de acordo com a promotoria.

Em meio ao primeiro dia de protestos, Morales voltou a acusar o governo Arce de reativar o processo judicial para prendê-lo ou até mesmo matá-lo, com o objetivo de impedir que ele concorra à Presidência em 2025.

"Eles pretendem nos inabilitar através de processos judiciais. E, finalmente, promover tal nível de violência legitimada que resulte em episódios como o atentado" frustrado contra a ex-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, em 2022, escreveu Morales na rede social X.

M.Ouellet--BTB