Berliner Tageblatt - Casa de comandante de Auschwitz abre suas portas nos 80 anos da libertação do campo

Casa de comandante de Auschwitz abre suas portas nos 80 anos da libertação do campo
Casa de comandante de Auschwitz abre suas portas nos 80 anos da libertação do campo / foto: © AFP

Casa de comandante de Auschwitz abre suas portas nos 80 anos da libertação do campo

Uma casa que tinha vista para uma câmara de gás e um crematório em Auschwitz, e que já foi ocupada pelo comandante do campo de extermínio nazista, está prestes a se tornar um centro de combate ao antissemitismo e ao extremismo.

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O prédio cinza é conectado ao campo por um túnel subterrâneo e foi apresentado à imprensa pelos organizadores do Counter Extremism Project pela primeira vez nesta segunda-feira (27), no 80º aniversário da libertação do campo nazista alemão de Auschwitz.

"É a casa do pior extremista da história", disse Mark Wallace, ex-embaixador dos Estados Unidos na ONU e fundador do projeto, durante uma visita guiada.

Até agora, a casa de Rudolf Höss, que viveu nesta residência com sua esposa e cinco filhos, estava em mãos privadas. Seus cômodos foram esvaziados e apenas uma mezuzá judaica tradicional (uma pequena caixa com um pequeno pergaminho enrolado com uma oração escrita) foi adicionada à moldura da porta da entrada principal.

Quando compraram a casa, os organizadores encontraram objetos de época, como uma xícara da SS [a Polícia do Estado], jornais e graxa para sapatos.

A calça de um uniforme do campo, listrada com a insígnia de um prisioneiro político judeu, também foi encontrada. Ela foi usada para cobrir um buraco no telhado.

O filme vencedor do Oscar "Zona de Interesse", que conta a história de Höss e sua família, foi parcialmente gravado nesta casa, construída em 1937, e que já teve um grande jardim, piscina, estufas, sauna e estábulo.

- Poder purificador -

Höss, oficial da SS, começou a administrar o campo em 1940, quando chegaram os primeiros prisioneiros poloneses.

Ele foi preso depois da guerra. Após os julgamentos de Nuremberg, foi condenado por um tribunal polonês e enforcado em Auschwitz em 1947.

Auschwitz foi o maior dos campos de extermínio e tornou-se um triste símbolo do genocídio perpetrado pela Alemanha nazista contra seis milhões de judeus, um milhão dos quais morreram neste local entre 1940 e 1945, além de outros 100.000 não judeus.

Tanto dos quartos das crianças quanto do que supostamente era o escritório de Höss no primeiro andar, é possível ver o quartel do campo.

"Ele não era apenas o mestre da vida e da morte. Ele viveu aqui como um rei", comentou Hans-Jakob Schindler, o principal diretor da iniciativa.

Alguns críticos do projeto alertaram que ele poderia alimentar um interesse mórbido por Höss.

"Tudo girará em torno do filme e da pessoa responsável que levou uma vida 'normal' lá, sem ensinar ninguém sobre as provações sofridas pelas vítimas judias", considerou o historiador Simon Schama.

Nos próximos meses, a casa deverá ser convertida em um centro de pesquisa e educação.

Além disso, contará com uma exposição fotográfica dedicada à Lore Sternfeld, vítima de Auschwitz e fabricante de lentes, bem como um projeto musical em colaboração com o compositor Francesco Lotoro, que há 40 anos busca músicas compostas nos campos de concentração.

Para a inauguração do projeto, Lotoro tocou uma canção de ninar composta por Adam Kopycinski, regente da primeira orquestra de Auschwitz.

"Acredito que esta música tem o poder de purificar este lugar [...] Ela pode reiniciar o relógio da história", declarou ele, depois de tocar piano na casa.

"Fui encontrar vida onde havia morte", acrescentou.

M.Furrer--BTB