Berliner Tageblatt - Israel proíbe atividades da agência da ONU para refugiados palestinos no país

Israel proíbe atividades da agência da ONU para refugiados palestinos no país
Israel proíbe atividades da agência da ONU para refugiados palestinos no país / foto: © AFP

Israel proíbe atividades da agência da ONU para refugiados palestinos no país

A Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA) anunciou, nesta quinta-feira (30), que continua com suas atividades nos territórios palestinos, mesmo depois de ter que fechar suas instalações em Jerusalém e de Israel ter rompido qualquer vínculo com a organização.

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"Continuam prestando ajuda e serviços às comunidades às quais atendem. As clínicas da UNRWA na Cisjordânia, inclusive em Jerusalém oriental, estão abertas. E as operações em Gaza continuam", disse Stéphane Dujarric, porta-voz do secretário-geral da ONU, António Guterres.

"A UNRWA continuará cumprindo seu mandato, como [seu chefe, Philippe] Lazzarini deixou muito claro, até que não possa mais fazê-lo", acrescentou.

No entanto, Dujarric assinalou que não há mais funcionários presentes na sede da agência em Jerusalém oriental, que se ocupavam sobretudo de tarefas administrativas.

Israel rompeu, nesta quinta-feira, os vínculos com a agência UNRWA após acusá-la de acobertar combatentes do Hamas no ataque de 7 de outubro de 2023, que desencadeou a guerra em Gaza.

Após mais de 75 anos prestando apoio aos refugiados palestinos no Oriente Médio, a agência não poderá mais operar em Israel, nem manter contato com as autoridades israelenses.

A decisão, apoiada pelos Estados Unidos, mas que, segundo a ONU, coloca em risco o "futuro dos palestinos", ameaça colocar em perigo serviços essenciais fornecidos pela agência após 15 meses de guerra em Gaza.

A decisão entrou em vigor um dia após a Suprema Corte de Israel rejeitar um pedido de suspensão das leis aprovadas em outubro para encerrar as atividades da agência.

Segundo o tribunal, as leis se aplicam apenas "no território soberano de Israel" e "não proíbem (a atividade da UNRWA) nas regiões da Judeia-Samaria (Cisjordânia ocupada) e na Faixa de Gaza".

A lei estipula que o trabalho da agência deve ser realizado sem a participação do Estado de Israel.

Após a entrada em vigor da lei, o governo norueguês anunciou, nesta quinta-feira, que pagaria 24 milhões de dólares (141 milhões de reais) em ajuda à UNRWA.

"Gaza está em ruínas e a ajuda da UNRWA é mais necessária do que nunca", disse o chefe da diplomacia da Noruega, Espen Barth Eide.

A Turquia, por sua vez, denunciou "uma flagrante violação do direito internacional" por parte de Israel e disse que isso marca "uma nova etapa nas políticas de ocupação e anexação de Israel, que visam expulsar à força os palestinos de suas terras".

A agência entrou em conflito repetidamente com autoridades israelenses, que a acusam de minar a segurança do país.

A hostilidade se intensificou após o ataque do movimento islamista palestino Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023, com acusações de que funcionários da UNRWA estavam envolvidos na ação.

- Direito internacional -

A agência foi criada em dezembro de 1949 para apoiar refugiados palestinos forçados ao exílio após a criação de Israel em 1948.

Ela fornece serviços públicos, como saúde e educação, a quase seis milhões de palestinos na Faixa de Gaza, na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, além de Líbano, Síria e Jordânia.

A situação é especial em Jerusalém Oriental. Por um lado, o embaixador israelense na ONU, Danny Danon, exigiu que a UNRWA desocupasse "todos os edifícios que utiliza até 30 de janeiro".

Mas no campo de refugiados de Shuafat, também em Jerusalém Oriental, a UNRWA não cessará suas atividades.

Jerusalém Oriental foi ocupada e anexada por Israel em 1967, embora não seja reconhecida como território israelense.

"É isso que o Estado de Israel tem feito desde sua existência (...), colonizar com a esperança de tornar essas injustiças irreversíveis e que os direitos palestinos sejam negociáveis", disse Ines Abdel Razek, do Instituto Palestino para a Diplomacia Pública.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que lamenta a decisão e pediu que Israel recue, afirmado que a agência é "insubstituível".

Para o governo israelense, a proibição da agência é uma vitória política.

"A UNRWA está cheia de membros do Hamas, não apenas os 19 que a UNRWA está investigando (...), mas também centenas de funcionários", disse o porta-voz do governo David Mencer na quarta-feira.

No final de janeiro de 2024, Israel acusou 12 funcionários da UNRWA de envolvimento no ataque de 7 de outubro, provocando uma tempestade dentro da agência. Mais tarde, outros sete nomes foram acrescentados à acusação.

A denúncia levou vários doadores a suspender o financiamento da agência. Uma investigação da ONU em agosto descobriu que apenas nove membros da equipe "podem estar envolvidos".

J.Bergmann--BTB